Carta Programa 2013

Índice


1. Realizações anteriores - Há 2 anos pela Crítica na Universidade

2. Estrutura da Faculdade
2.1. A “Nova” Biblioteca da Faculdade
2.2. O Projeto Político-Pedagógico em 2013

3. Democracia na Universidade
3.1. Continuidade da Reforma Regimento Interno
3.2. Por uma Comissão da Verdade na São Francisco
3.3. Diretas para Diretor e Reitor
3.4. Acesso, Cotas e Permanência Estudantil
3.5. Luta contra a burocratização da Universidade

4. Financiamento da Universidade

5. Contra a Terceirização dos Funcionários e Funcionárias


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"O espírito humano critica não porque pensa, mas porque sente."
Frase inspirada de trecho do Livro do Desassossego, de Fernando Pessoa.

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1. Realizações anteriores - Há 2 anos pela Crítica na Universidade

Reconduzido à gestão da Representação Discente da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo para seu segundo mandato em 2012, o Grupo Universidade Crítica se mostrou um grupo que luta de forma coesa pelos interesses dos estudantes. Provou-se uma força política que opera em consonância com os anseios da comunidade discente, desde os departamentos, passando pelas comissões, até o nível mais alto de sua atuação, a Congregação.

Vivíamos sob as consequências da gestão do antigo diretor, atual Reitor, João Grandino Rodas, tanto pelos atos como a reforma das salas, como pela grade aprovada em 2007, que dificultou de forma brutal o eficaz aprendizado dos e das estudantes e a mudança desastrosa da biblioteca, que impediu sua utilização por parte da comunidade. Esse panorama vem sendo mudado pela Representação Discente sob a Gestão do Grupo Universidade Crítica. 

Em 2011, aclamamos a proposta de declarar o Reitor como “persona non grata”, e já na gestão de 2012, os Representantes Discentes votaram para a manutenção do título, dando improvimento ao recurso de João Grandino Rodas. 17 professores votaram a favor, 17 votaram contra o recurso. A Representação Discente teve papel fundamental na decisão, em que os quatro RDs do órgão máximo deliberativo votaram contrariamente ao provimento do recurso, sob a mobilização do resto do Grupo Universidade Crítica do lado de fora da Sala da Congregação.


Rodas Persona Non Grata

Muitas outras vitórias foram conquistadas: a aprovação de uma moção pela Congregação favorável às cotas de ingresso marcou a história da Faculdade para sempre! Além disso, conseguimos que fosse criada uma comissão paritária e tripartite para rediscutir o Regimento Interno da Faculdade.

É assim que o Grupo Universidade Crítica enxergou e enxerga a atuação da Representação Discente: ao mesmo tempo em que luta pelos interesses dos estudantes no meio administrativo, luta pela atuação política em peso do Movimento Estudantil. Nossa crença é que todos os espaços devem ser politizados, visto que muito de autoritarismo se esconde por trás das formas burocráticas da administração pública.

TRANSPARÊNCIA DE ATUAÇÃO

O Grupo Universidade Crítica preza pela transparência perante os e as estudantes. Durante os dois anos de gestão, utilizamo-nos da internet para dialogar com os e as estudantes. Com nossos informes, transmitimos as informações necessárias para que os alunos e alunas procedessem às conturbadas matrículas – por exemplo  e notícias sobre os acontecimentos políticos da Faculdade de Direito. Por meio dos perfis da Representação Discente e do Grupo Universidade Crítica, promovemos a ampla divulgação de nossos eventos, uma forma de potencializar o comparecimento.

Criado para ser um portal facilitador da relação entre estudante e Representação Discente, o site da RD foi implementado em 2011, já contando com muitos acessos. Divulgamos inclusive informações referentes a nossos eventos bem como os nomes dos professores para a matrícula do 1º semestre deste ano.

A transparência do Grupo tem se dado também por meio das reuniões abertas, como no Ciclo de Debates sobre PPP, em que discutimos, de forma horizontal, os rumos que daremos à construção da nova Matriz Curricular e Projeto Político-Pedagógico.

A LUTA PELA DEMOCRATIZAÇÃO DA UNIVERSIDADE

Cartaz "A Universidade é nossa!"
“A Universidade é nossa” foi a frase que marcou o ato do dia 29 de setembro de 2011. Realizamos um grande ato político, de muito sucesso, que tinha como objetivo posicionar a Faculdade contra as atitudes tomadas por João Grandino Rodas nos últimos meses. O ato foi elaborado com a proposta de responder às acusações do Reitor feitas por meio do panfleto USP Destaques, em que Rodas acusa a Faculdade de gestão irresponsável e de interromper seu projeto de modernização. Esse ato foi transformado no Ato Rodas Persona Non Grata, já que foi naquela tarde que o reitor recebeu o título “honorífico” da Congregação. 

Acompanhamos, ao longo do ano, as consequências desastrosas dos projetos implementados por Rodas, durante seu mandato de Diretor da FD: grade horária pouco debatida e planejada, aprovada em 2007; divisão de salas sem proporcional contratação de professores; transporte da biblioteca para um prédio sem infraestrutura. Essas são algumas de suas “modernizações”.

Houve também cortes dos já pequenos investimentos da administração da USP na Faculdade: as verbas para reforma dos departamentos que não chegaram a ser liberadas; além disso, a “enrolação” para a reforma do Prédio Anexo IV – Biblioteca Jurídica São Francisco; e o pouco interesse e da escassa atitude para a aprovação do projeto de reforma do Edifício Anexo II – Cláudio Lembo, que a inda carece de aprovação na Prefeitura de São Paulo.


Nossa Biblioteca em caixotes
(Foto do blog da turma 182 - 21)
Em 2012, posicionamo-nos contrários a prover o recurso de João Grandino Rodas. Em Sessão da Congregação, votamos contrariamente ao deferimento de seu recurso, e fizemos pressão de fora da Sala da Congregação, mobilizando os estudantes com megafones e cartazes para que não passasse o recurso. Graças aos nossos votos, o recurso foi negado.

Essa é a faceta autoritária mais recente da nossa Faculdade, que ainda possui resquícios muito profundos do Regime Militar. Prova disso é nosso ensino tecnicista, centrado na sala de aula, em que o aluno (do latim, aquele que não tem luz), cumpre disciplinas dentro de uma grade curricular engessada. A própria configuração dos departamentos, que compartimenta as áreas do Direito, dificulta a interdisciplinaridade e um aprofundamento da complexa estrutura jurídica, além de criar espaços de perpetuação de poder pelas abolidas, mas ainda vívidas cátedras.

A ditadura brasileira se institucionalizou profundamente em nosso país, de modo que ainda hoje convivemos com resquícios institucionais do Regime. Uma Ditadura não se mede apenas pelo número de vidas destroçadas, mas também pelas consequências institucionais que se propagam pelo tempo nas engrenagens do Estado. Não podemos ignorar esse período de nossa história, sob o risco de criarmos uma imagem míope de nós mesmos, imagem essa que serve de suporte para projetarmos o Brasil futuro.
A São Francisco tem o dever histórico de, à luz das ciências jurídicas e sociais, trazer o debate sobre as consequências do passado no presente ao promover efetivamente a continuação de nossa transição democrática, a qual ainda não está completa. Daí o apoio total do Grupo Universidade Crítica à consolidação de uma Comissão da Verdade na São Francisco que estude os crimes cometidos no regime militar.

A democratização é uma bandeira que se levanta não só em termos de embate à gestão do aparelho burocrático da Universidade, mas também nos termos de acessibilidade. Nesse sentido, discutir o perfil do ingressante e o modo como o mesmo se mantém nos estudos é também se preocupar com democratização da Universidade. O Grupo Universidade Crítica entende que uma heterogeneidade de estudantes é uma tarefa que coloca a Universidade nos rumos em direção à democracia. No entanto, orientar a instituição nesse sentido não é um feito que se dá sem controvérsias e mobilização.

Neste ano de 2012, o Supremo Tribunal Federal declarou constitucional a reserva de cotas para negros na Universidade e ações afirmativas em geral, entendendo-as não como afronta ao princípio da igualdade, senão como a efetivação do mesmo. A Congregação da Faculdade de Direito da USP, após pressão da sociedade civil – através do Movimento Negro, principalmente  e dos estudantes, aprovou por aclamação uma moção de apoio não só às cotas raciais, mas também às cotas sociais e àquelas voltadas às pessoas com deficiência. Trata-se da primeira unidade da USP a se posicionar a respeito do tema.

O Conselho Universitário, por enquanto, ainda não se posicionou sobre o tema, mas criou uma comissão responsável por organizar seminários sobre inclusão social nas unidades que compõem a instituição com o intuito de que, ao final, seja tirado um posicionamento do próprio Conselho sobre o tema. O Grupo Universidade Crítica entende que as ações afirmativas promovem a ascensão social de setores socialmente desfavorecidos e estimulam a diversidade nos campi, agregando valor não só à formação do estudante, mas também aos conhecimentos formulados em nível universitário, ajudando no combate ao racismo presente na sociedade brasileira.

A CONSTRUÇÃO DE UM PROJETO POLÍTICO-PEDAGÓGICO

O Grupo Universidade Crítica iniciou o presente ano com o objetivo de construir com a Faculdade um novo Projeto Político-Pedagógico. Ao perceber o quanto isso era essencial para termos um ensino jurídico de qualidade e concretizarmos uma universidade verdadeiramente pública, dedicamos grande parte da nossa energia para levar a demanda deste novo PPP às pautas dos docentes, bem como para a agenda dos debates estudantis. Foi por meio de muito estudo, discussão com os e as estudantes, criação de eventos e articulações nos departamentos que já conseguimos modificações da grade neste ano e estamos com o projeto de reforma da matriz curricular sendo discutido na Comissão de Graduação para ser enviado ainda esse ano à Congregação.

O Ciclo de Debates sobre a nova matriz curricular realizado no primeiro semestre foi um primeiro passo para a concretização do diálogo entre os estudantes sobre o assunto. Foram oito encontros que trataram dos temas estruturais do PPP como ensino, pesquisa, extensão, núcleo de práticas jurídicas, ciclo básico, permanência e acesso, entre outros. Nosso debate buscou ser o mais horizontal possível, sem convidados para palestrarem sobre o tema de maneira expositiva, mas com rodas no Pátio e utilização de textos base de estudiosos da educação para pautar as discussões que se seguiam. Todo o acréscimo foi levado à subcomissão da Comissão de Graduação e tais assuntos serão ainda mais debatidos em 2013.



Em relação aos problemas da Matrícula 2012, o Grupo Universidade Crítica, na gestão da Representação Discente, apresentou um Dossiê analisando as dificuldades da atual grade, implementada em 2008, e apresentando seus vícios, com a finalidade de explicitar seus problemas estruturais. Tal documento vem sendo apresentado também aos docentes, para que reflitam quanto às falhas gerais do currículo, o que reforça a importância de se pensar uma reforma geral que tenha um eixo estruturante: o Projeto Político-Pedagógico.

Ainda no âmbito do ensino, em 2012 a Avaliação de Ensino sofreu sua maior evolução institucional desde seu início há dois anos, quando fora bandeira levantada pela Representação Discente. Atualmente não é apenas um projeto feito por estudantes, mas integra o corpo institucional da Faculdade de Direito da USP. Acreditamos que os dados levantados pela avaliação possa corroborar a análise mais detalhada dos problemas do nosso curso, numa visão dentro da sala de aula. A avaliação ainda está em processo de estruturação e faz parte de um complexo muito maior de consultas, sendo seu desenvolvimento importante para a coleta de dados e levantamento de problemas que precisam ser discutidos e repensados coletivamente.

Contando com uma subcomissão formada por docentes, representantes discentes e três estagiários remunerados pela Faculdade, conseguiu-se uma maior estabilidade ao projeto, abrindo portas também para uma nova forma de se enxergar a permanência estudantil na São Francisco, por meio de bolsas para estudantes que exerçam alguma atividade ligada ao desenvolvimento da Faculdade.


2. Estrutura da Faculdade

2.1. A “Nova” Biblioteca da Faculdade

ESTRUTURA FÍSICA

A desastrosa mudança da Biblioteca em 2010 para o
Prédio Anexo IV, que destruiu parte de nosso acervo.
No ano de 2010, vimos nossa Biblioteca ser maltratada pelo então Diretor, João Grandino Rodas. Em sua última noite no cargo, Rodas ordenou a transferência dos livros do Prédio Histórico para o Anexo IV. Essa transferência foi feita de forma totalmente irresponsável, causando danos irreparáveis em várias obras e dificultando o processo de montagem da biblioteca no novo local, tanto pela forma como ela foi feita quanto pela não participação dos funcionários de nossa biblioteca nesta mudança.

O Anexo IV encontrava-se sem qualquer condição de receber a maior biblioteca jurídica da América Latina. Hoje, apesar de esforços para melhor organizar o local, a situação crítica ainda é constatada. Verbas foram liberadas para a reforma do anexo IV, mas a situação não é satisfatória. Não obstante, mesmo sendo uma biblioteca pública, seu acesso só é possível mediante apresentação de carteirinha da Faculdade.

A Comissão das Bibliotecas, criada em 2010, tem se organizado no sentido de propor a realização de um concurso de arquitetura, em parceria com o IAB-SP, para elaborar um novo projeto de biblioteca. O Grupo Universidade Crítica, em 2013, se propõe a trazer aos estudantes, as discussões quanto ao futuro de nossa Biblioteca, com a participação dos funcionários e professores interessados, para que as sugestões levantadas se concretizem no edital que será proposto aos candidatos ao Concurso, bem como que essas sejam acolhidas pelo projeto escolhido. Além disso, acreditamos que o projeto de nova biblioteca deve ser financiado com verbas públicas, bandeira que nos comprometemos a defender junto à Comissão das Bibliotecas.

ACERVO

A atualização do acervo de nossa biblioteca é outra demanda urgente e pela qual pretendemos trabalhar. A FAPESP desenvolve, a cada quatro anos, o projeto FAP-livros, que visa apoiar a aquisição de livros, e-books e publicações em outras mídias, destinadas à pesquisa científica e tecnológica, visando à atualização do acervo de bibliotecas vinculadas a Instituições de Ensino Superior e Pesquisa, públicas ou privadas, do Estado de São Paulo. Em 2009, o valor para apoio disponibilizado chegou a R$ 25.000.000,00 e as solicitações feitas por nossa faculdade foram insignificantes – apenas quatro professores se manifestaram –, diferentemente ao que foi feito pela FFLCH ou até mesmo pela UNICAMP, a qual pediu 20.000 livros a mais que a USP.



Biblioteca Florestan Fernandes, da FFLCH.
O próximo projeto FAP-Livros será desenvolvido em 2013. Diante disso, o Grupo Universidade Crítica se compromete a construir, durante todo o ano, uma lista completa e ampla de livros a serem solicitados. Além disso, trabalharemos outro problema relevante, relativo à falta de agilidade no processo de catalogação dos livros, que faz com que as novas aquisições demorem a ser disponibilizados nas prateleiras; comprometemo-nos a buscar soluções rápidas e eficientes junto à administração e a diretoria da biblioteca.


2.2. O Projeto Político-Pedagógico em 2013

O ano de 2012 foi de muitas vitórias para a reforma da atual grade curricular. No primeiro semestre do ano passado, conseguimos realizar o “Ciclo de Debates” com os estudantes, discutindo diversos assuntos relacionados a uma nova matriz curricular e um novo projeto político-pedagógico. Ao mesmo tempo, a “subcomissão CG de reforma da grade e PPP” se reunia para discutir o diagnóstico da grade atual, levando a apresentação primeiro aos estudantes, numa reunião aberta, depois para os professores, por meio do CTA (Conselho Técnico Administrativo) extraordinário.

A discussão do novo projeto político-pedagógico terá continuidade no ano de 2013, mas num estágio mais avançado. As reuniões de apresentação do diagnóstico da grade com os departamentos já terão sido finalizadas, restando à subcomissão de reforma da grade a tarefa de colher as sugestões dos departamentos e organizá-las e discuti-las com a Faculdade no próximo período. Nesse aspecto, precisamos da mobilização e engajamento dos estudantes para que o projeto político-pedagógico seja pautado não apenas por docentes, mas também pelos alunos, alunas e funcionários.

Nesse ponto, a discussão sobre extensão e pesquisa é central para a concretização de uma nova Matriz Curricular que seja completa e se proponha a transformar o atual curso de Direito. Percebemos que, por mais que sejam estimulados a pensarem outras formas de aprendizagem, os departamentos acabam focando a discussão no ensino e oferecimento de disciplinas, apesar de termos algumas exceções, como o Departamento de Civil que se propôs a criar oficinas de prática optativas, por exemplo. Daí a importância dos estudantes interessados estimularem a criação e também o reconhecimento dos grupos de pesquisa e entidades extensionistas, na busca de um equilíbrio do tripé universitário.



Entendemos que o conceito de extensão deva ser disputado para que se torne cada vez mais popular. Assim, nosso propósito é continuar construindo espaços de discussão sobre extensão, como o criado Fórum de Extensão FDUSP, a fim de construirmos entendimentos conjuntamente, buscando concretizar, da melhor forma possível, as demandas dos estudantes na luta para a consolidação do tripé universitário.

É importante dizer que um PPP deve refletir em sua essência a sociedade onde a Faculdade esta inserida. Precisamos fazer o exercício de olharmos para o que está fora do ambiente muitas vezes alienável da Faculdade. Nesse ponto, a FDUSP tem a marcante característica de estar localizada no centro da cidade de São Paulo, convivendo com uma imensa desigualdade e miséria diária. Na cidade de São Paulo, o cotidiano frenético nos impele a ficar imersos nos problemas individuais e não olhar para o Outro e, por essa análise, a Faculdade de Direito não está livre dessa frieza ao que lhe é alheio.

Observar que a extensão, ponto de contato e diálogo entre a universidade e a sociedade, não faz parte do currículo e é pouco reconhecida, só mostra uma triste escolha de currículo. Tal escolha não está isenta de um posicionamento político. Por isso o projeto que se pretende construir, mais do que puramente pedagógico, é também político.
A pesquisa também tem um importante papel na construção de um aprendizado mais consciente. Se repensássemos a pesquisa na Faculdade, repensando, inclusive o papel da Tese de Láurea, os próprios temas das pesquisas refletiriam mais a sociedade e seriam fruto de verdadeiras preocupações e reflexões. Nesse sentido, a pesquisa cumpriria com o seu papel de dar respaldo ao ensino crítico e às práticas extensionistas, que se propõe forjar o diálogo da sociedade com a universidade.
Assim, é preciso repensar o curso de direito e seu PPP, coletivamente, para que ele combine elementos para um aprendizado atual, crítico e consciente, utilizando-se de instrumentos para efetivar o diálogo entre sociedade e universidade de forma verdadeiramente democrática e sensível.

3.          Democracia na Universidade

3.1.     Regimento Interno – A outra face do Projeto Político-Pedagógico

No ano de 2012 foi constituída uma comissão paritária, formada por quatro professores (um representante de cada Comissão: Pesquisa, Cultura e Extensão, Graduação e Pós-Graduação), quatro servidores técnico-administrativos e quatro estudantes (sendo um da pós-graduação), para reforma do Regimento Interno da Faculdade de Direito. O próprio caráter paritário traduz uma postura igualitária, oposta à concepção tradicional consolidada pela estrutura administrativa da Faculdade.

Repensar o Regimento Interno é redistribuir competências e repensar relações de poder, tarefas e responsabilidades. Isso também possibilita a atribuição de novas competências aos órgãos ou até mesmo a reestruturação dos mesmos (comissões, departamentos, Congregação, Conselho Técnico-Administrativo). Abordar uma reforma do Projeto Político-Pedagógico – PPP da unidade sem passar pela reforma do Regimento é realizar metade da tarefa. Dito de outra forma, implantar um novo PPP que não encontre amparo administrativo significa o enfraquecimento da efetivação da própria proposta de inovação pedagógica.

Nesse sentido, a reforma do regimento interno surge como uma nova pauta que complementa, ao mesmo tempo em que efetiva, o próprio Projeto Político-Pedagógico. Consciente disso, o Grupo Universidade Crítica se compromete a tomar as duas pautas em seu conjunto, complementaridade e complexidade, de modo a garantir a plena implementação de reestruturação política e pedagógica.

Ademais, o regimento interno data do período da Ditadura Civil-Militar. A rígida hierarquia, a burocracia, a concentração de poder e a racionalidade autoritária expressas pelo documento destoam do contexto democrático. A reformulação dessas normas se faz necessária e urgente para a consolidação da democracia, afinal, trata-se de adequar parte do aparelho de Estado, rompendo com o legado da Ditadura que ainda se encontra presente no âmbito da Faculdade de Direito.

3.2.     Por uma Comissão da Verdade na São Francisco


Ditadura na Faculdade - foto de Camila Rodrigues da Silva

O Regime Ditatorial que submeteu o Brasil de 1964 a 1985 foi parcamente descoberto pela sociedade civil e aqueles tempos ainda guardam segredos jamais mostrados de forma clara e cujos resquícios ainda se fazem presentes em nossa sociedade e na Universidade, que se desvelados podem ser de grande utilidade para a consolidação da transição democrática. O Grupo Universidade Crítica entende que apenas o esclarecimento dos fatos ocorridos durante essa época obscura pode cicatrizar essa ferida latente na história brasileira, por isso apoia as iniciativas de Comissões pela Verdade e Memória em todo o país, em especial na Universidade de São Paulo.

Ao olharmos para trás, vemos nossa Faculdade destacando-se por vezes durante o Regime Militar, membros desta casa foram desde estruturadores da Ditadura a militantes mortos ou desaparecidos pelo Estado. O Largo de São Francisco abriga inúmeros momentos e histórias do período, algumas já públicas como a célebre leitura da Carta aos Brasileiros por Goffredo Telles Jr., em 1977 e outras ainda pouco conhecidas. Dessa forma, incluímos a criação e o bom funcionamento de um projeto de recuperação de memória de nossa faculdade como pauta a ser defendida e materializada pela Representação Discente em 2013, pelo Grupo Universidade Crítica. 

A instituição de uma Comissão da Verdade na São Francisco foi a primeira das bandeiras que levantamos nesse sentido, com os estudantes, e que pretendemos implementar no ano de 2013. Servindo tanto de força à Comissão da Verdade da USP como de substrato às Comissões da Verdade instituídas no âmbito do poder executivo, a nossa Comissão da Verdade buscará tornar-se, por um lado, uma forma de registro histórico e recuperação da memória de nosso país e nossa Faculdade que na história deste se fez presente, e, por outro, uma forma de recuperar a herança autoritária como forma de desconstituirmos seus resíduos ainda presentes, a exemplo do Regime Disciplinar da USP, de 1972, ainda hoje vigente em nossa Universidade, nas hierárquicas estruturas de poder da mesma e na estrutura pedagógica tecnicista.

3.3.     Diretas para Diretor e Reitor!

No último período, vivenciamos as cotidianas atitudes antidemocráticas de João Grandino Rodas a frente da Reitoria. A concepção de Universidade que Rodas vem implementando na USP, de caráter privatista, elitista e opressor, gerou várias movimentações contrárias por parte de estudantes, trabalhadores e professores. Sua declaração como persona non grata pela Congregação, a greve de estudantes em vários cursos no ano passado e a construção do Fórum Aberto pela Democratização da USP são exemplos dessa luta.


Ato pela autonomia da Universidade
A luta por Democracia não se faz no abstrato. Para isso precisamos nos pautar por atuações concretas que construam neste sentido. Consideramos que as medidas tomadas por Rodas são fruto de uma estrutura antidemocrática, que exclui professores de menor titulação, estudantes e, principalmente, trabalhadores das decisões políticas que dão rumos à Universidade. É essa estrutura, que não respeita nem o mínimo de representação colocado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação, que permite ao Reitor realizar atos autoritários e unilaterais.

Essa concentração de poder decisório é bem exemplificada na eleição para a Reitoria, pouquíssimos professores votam, com participação quase nula de trabalhadores e estudantes, para a formação de uma lista tríplice que é enviada ao Governador do Estado para que ele escolha aquele que julga ser o melhor candidato. Na última eleição, Serra escolheu Rodas, que nem era o mais votado da lista. No próximo ano, teremos uma nova eleição para o cargo mais alto da Universidade, deve ser construída uma real movimentação – que agregue as três categorias universitárias – em torno das Diretas para Reitor! Em dezenas de Universidades Federais, o voto direto e paritário – com igual peso entre as categorias – já acontece.

Ainda no próximo período, teremos também eleições para a Diretoria da Faculdade de Direito. Podemos começar a democratizar a Universidade por nossa Casa, como têm demonstrado os posicionamentos conquistados nas últimas reuniões da Congregação.

Neste sentido, lutaremos para que o processo aconteça de forma semelhante às eleições da Faculdade de Educação. No último processo, foi realizada uma ampla consulta à comunidade, com a participação de docentes, estudantes e funcionários e os três candidatos assumiram, previamente, o compromisso de respeitarem a decisão da comunidade. A Congregação ficou apenas responsável por homologar o nome mais votado entre as três categorias.

Esperamos, dessa forma, que o Direito se junte à Faculdade de Educação nessa pauta por uma gestão mais democrática e ligada à toda a comunidade acadêmica.

3.4.     Acesso, Cotas e Permanência Estudantil

Este ano nossa Congregação fez a primeira moção da Universidade de São Paulo em favor das cotas raciais e sociais, porém tal matéria não pode encontrar seu fim em algo diferente da efetividade. O primeiro passo foi dado, mas cabe a nós – como estudantes e como cidadãos – avançarmos em tal luta e enfrentarmos as barreiras contra o desenvolvimento e implementação desta proposta. Neste sentido o Grupo Universidade Crítica acredita que as cotas devem ser parte do processo de ingresso na Universidade de São Paulo.

Todavia, a efetivação das cotas não pode ser vista como fim em si, fazendo-se necessário um pensamento global acerca do problema da inclusão, visto que em nada adianta a Universidade abrir suas portas se não for capaz de manter os seus estudantes. Por isso, não podemos deixar de incentivar projetos que visem à permanência estudantil e reconheçam seu valor para a Universidade, sendo mais do que uma simples política assistencialista, mas sim uma forma que permita aos estudantes da São Francisco se dedicar integralmente ao Ensino, Pesquisa, Extensão e demais atividades que contribuam para o desenvolvimento da Academia como uma instituição voltada para a educação e sociedade.

Trecho do PDI
Além disso, faz-se cada vez mais necessária a luta institucional por melhores condições de ensino e maiores verbas voltadas à permanência estudantil. Em pesquisa realizada pelo Grupo Universidade Crítica ao receber o Plano de Desenvolvimento Institucional da USP (PDI) – documento quinquenal, de cunho político-institucional, que mostra o rumo da universidade na busca de demandas sociais, além de traçar um panorama geral histórico – percebemos que houve um aumento de cerca de 30% do investimento da USP na internacionalização, enquanto que permanência recebeu um aumento de apenas 5% no investimento, apesar das demandas por mais moradias estudantis, ampliação do número de bolsas de permanência, bem como aumento delas. Isso mostra como é fundamental tencionar esses espaços administrativos, que são também políticos, a fim de pautar mudanças estruturais da Universidade, de acordo com o interesse também dos estudantes.

Tabela síntese das metas da USP 2012 - 2017
Extraído do PDI

3.5.     A luta contra a burocratização da Universidade

O Grupo Universidade Crítica acredita que politizar os espaços administrativos e burocratizados é fundamental para uma Universidade e Faculdade mais democrática. A disponibilização de informações sobre andamentos de projeto, processos pertinentes para toda a comunidade, decisões administrativas devem ser prioridade para que se cumpra, inclusive, a Lei de Acesso à Informação. Mas não só. Os estudantes devem se preocupar com alguns andamentos, por exemplo, de programas de estímulo à graduação, para pressionarem, junto à Representação Discente, os órgãos administrativos da Faculdade e Universidade.

Por exemplo, a disponibilização da verba do Pró-ED (programa para reforma de espaços didáticos) de um milhão e meio de reais que ainda não foi liberada – depois de quase um ano - por falta de apresentação de orçamentos cabíveis e também pela falta de contratação de arquiteto ou empresa responsável pela reforma. O andamento do processo de licitação está parado faz meses e, por mais que a RD se prontifique em acompanhar as movimentações e fazer pressão na Diretoria, nada acontece. Daí a importância dos estudantes estarem junto à sua Representação na luta contra tais abusos.

Não faltam exemplos de como atos autoritários podem se camuflar em meio à burocracia infindável do meio administrativo. Os contratos de gaveta que nosso ex-Diretor assinou vendendo duas salas da Faculdade são provas disso. Daí a necessidade dos alunos terem consciência dos atos que ocorrem nos “bastidores”, cientes de que são escolhas políticas que podem e devem ser tencionadas. A burocratização do ensino, da graduação e da própria Universidade prejudica a todos os setores da graduação, inclusive os funcionários e as funcionárias que precisam cumprir ordens, muitas vezes, sem sentido.

4.          Financiamento da Universidade

A Faculdade de Direito enfrentou, nos últimos tempos, situações que levaram à discussão dos limites entre a necessária modernização e o receio de interferência desmedida do capital privado. Após quase 185 anos de existência, a São Francisco apresenta, certamente, a necessidade de modernização, adequação e revitalização de sua estrutura, nos mais diversos aspectos, a fim de que se possa proporcionar aos estudantes e docentes melhores condições para o aprendizado, ensino e desenvolvimento de atividades acadêmicas. Nesse sentido, ponderações sobre a forma como essa modernização será obtida são essenciais.


Ainda que a educação no Brasil demande, de forma iminente, maiores recursos públicos, a Universidade de São Paulo financia-se, hoje, diretamente pelo ICMS do Estado, que obteve arrecadação recorde no ano de 2011. É certo que não falta à nossa Universidade, verbas e a inaplicação em certas áreas é fruto, sobretudo, de escolhas políticas. Diante disso, o Grupo Universidade Crítica tem, como prioridade, defender o caráter público de nossa Faculdade e exigir a aplicação das verbas que nos são devidas, cobrando, da Reitoria, e da direção de nossa Faculdade, a prioridade de utilização das mesmas. Apoiaremos iniciativas que visem à ampliação dos recursos destinados ao Ensino Superior, à Educação, em geral, e, particularmente, à USP.

Em 2013, O Grupo Universidade Crítica buscará, portanto, promover o debate democrático sobre o investimento privado na São Francisco. Quanto às bibliotecas, defenderemos que o novo projeto seja financiado com verbas públicas da própria Universidade. Acompanharemos também a reestruturação da Fundação Arcadas e a discussão nos colegiados, fazendo com que os estudantes participem desse processo e visaremos, sempre, assegurar a autonomia de ensino e a garantia de permanência do caráter público da Universidade.

5.          Contra a Terceirização dos Funcionários e Funcionárias

A terceirização é um fenômeno presente no dia a dia da Faculdade. A segurança (Albatroz), a limpeza e higiene (HigiLimp) e o bandejão noturno (Starbene) são atividades e setores os quais a Administração delegou aos terceirizados. São serviços que não se confundem com a atividade-fim da Faculdade. Se de um lado, a terceirização vem na esteira de uma lógica de redução de custos, por outro, ela relativiza direitos historicamente conquistados pela classe trabalhadora, o que implica um quadro de precarização das relações de trabalho. O que aparece, à primeira vista, como uma saída econômica e racional, sob um crivo mais rigoroso, se revela como uma afronta direta aos trabalhadores.

A Faculdade de Direito tem o dever de zelar pela observação desses direitos. É inadmissível que ela, por meio de sua Administração, coadune com a relativização dos direitos trabalhistas. Nesse contexto, as relações de trabalho são colocadas numa relação instrumental e perversa entre meios e fins, atendendo a um cálculo que considera como variáveis apenas o serviço a ser prestado e o preço pago por ele, excluindo da apreciação a dignidade do trabalhador. Trata-se, pois, de um predomínio do beneficiário do serviço em detrimento do seu prestador.

Em outras palavras, o que importa é que a Faculdade não se precarize, mesmo que para tanto precarize as relações de trabalho que nela se dão. Nesse sentido, o Grupo Universidade Crítica, à frente da Representação Discente, se compromete a resistir às eventuais futuras propostas de avanço da terceirização na Faculdade no curto prazo. Em longo prazo, entendemos que a celetização dos trabalhadores terceirizados seguida pela interrupção das contratações de serviços do tipo é uma saída viável para a consolidação de relações de trabalho condizentes com a dignidade e direitos do trabalhador e trabalhadora.





Congregação
Fernando Shecaira
Manuel Lira Neto
Mariana Teresa Galvão
Taís Rodrigues

Conselho Técnico Administrativo
Pedro Martinez

Comissão de Graduação
Felipe Gonçalves
Pollyana Pacheco

Comissão de Pesquisa
Kemil Jarude

Comissão de Cultura e Extensão
Ana Côrtes

Comissão de Cooperação Internacional e Nacional
Giovanna Ventre

Comissão USP Recicla
André Jorgetto
Lucca Rett

Departamento de Direito Civil (DCV)
Matheus Falcão
Kawe Vasconcelos

Departamento de Direito Comercial (DCO)
Luiza Rivas
Renan Fernandes

Departamento de Direito Econômico, Financeiro e Tributário (DEF)
Guilherme Amici
Carolina do Amaral

Departamento de Direito do Estado (DES)
Carolina Alves Lima
Naira Teixera

Departamento de Direito Processual (DPC)
Camila S. do Campo
Laiz Alves

Departamento de Direito Internacional e Comparado (DIN)
Heloísa Lima
Luana L. Teixeira

Departamento de Direito Penal, Medicina Forense e Criminologia (DPM)
Tatiana Gasparini
Aline Martins

Departamento de Direito do Trabalho e da Seguridade Social (DTB)
Luccas Cartocci
Leila Izidoro

Departamento de Filosofia e Teoria Geral do Direito (DFD)
Caio Ortega
Gabriela Bussab



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